Era final de 2005, havia ingressado no curso de Radialismo - e com o coração já enfervecido pelo sonho do Jornalismo - quando resolvi enviar uma carta (na época não se tinha Twitter ou Facebook, e email era coisa ainda que esquecida para algumas pessoas) para uma emissora de rádio e Tv da minha cidade. Em duas páginas escrevi sobre a minha história, a paixão pela comunicação, e o meu desejo de conhecer os bastidores de uma emissora (de verdade).
Não demorou muito e uma moça solícita me telefonou, informando dia e horário da minha visita. No dia combinado, sai de casa toda serelepe, quem sabe não era a hora de alguém perceber a minha paixão e o meu desejo de fazer.
Quando cheguei a emissora, levei um pequeno "chá de cadeira" até que a moça simpática veio me recepcionar:
- Você que é Juliny Barreto. Perguntou lendo o envelope.
- Sim, sou eu. Respondi meio tímida.
Ela sorriu e disse:
- Pode me acompanhar.
Passamos por uma catraca (daquelas que tem no ônibus, sabe?) e subimos umas escadas. Logo avistei enormes salas, revestidas com paredes de vidros, superlotadas de computadores e gente, muita gente. Falando ao telefone, digitando e realizando as duas funções ao mesmo tempo. Não era gente simples, eram jornalistas. Meus olhos marejaram.
- Um dia serei um deles. Pensei e continue apressando o passo pra acompanhar a moça que já ia bem a frente.
Ao final do corredor, ela abriu uma porta e disse:
- Pode entrar, esse é o camarim do João Januário**.
Dei dois passos ainda sem entender o porquê da felicidade dela, em me pronunciar tais palavras. Mas não demorou para que eu entendesse o entusiasmo. Um rapaz que arrumava um terno, bradou sorridente:
- Ahhhh! É mais uma fã do JJ**??? Pode sentar aqui na cadeira dele, todas que vêm aqui ficam loucas para tirar foto sentadas nela.
Na minha mente só um suspiro:
- Oi???
Não entendi nada. Como assim fã? Como assim sentar na cadeira do JJ*? "Como assim loucas para tirar uma foto sentada nela"?
Ora, ou eles não haviam lido a minha carta ou estavam me achando com cara de tiete apaixonada pelo senhor que declamava belas mensagens de autoajuda, e logo anunciava mais um esfaqueado em pleno horário do almoço. Mas podia ser as duas opções, o que era ainda pior.
Soltei um sorriso amarelo e disse:
- Obrigada, mas eu não quero foto na poltrona do JJ**. Aliás, vim por que sou estudante de radialismo.
Como se a magia havia acabado vi os semblantes mudarem:
- Ah, você é estudante? Então pode sentar ali naquela cadeirinha, te chamo quando o programa começar. Disse desapontada, e já não tão simpática moça.
Desconsolada, aguardei enquanto concluía:
- O que me resta é estudar mais, pra quem sabe um dia conquistar "uma poltrona", quiçá um "camarim". Mas sem fãs por favor.
** Apesar da história ser verídica, alguns nomes foram alterados.
Foto: Getty Imagens
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