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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Um jornalismo de faz de conta



Não são raras as vezes em que os portais de notícias e jornais impressos apresentam praticamente a mesma pauta de notícia, a mesma capa ou as mesmas chamadas, como se  houvessem participado de uma única reunião de pauta, recebido os mesmos releases e dai sim sentado para redigir suas matérias, com uma ou duas vírgulas que distingua. Como se nada mais, além daquilo que todo mundo já leu, acontecesse no mundo que pulsa fora das redações. 

Num recente artigo, publicado pelo portal IMPRENSA, o jornalista e professor Wilson da Costa Bueno desconstrói toda a glamuralização que é ministrada nos cursos de jornalismo a cerca do dia a dia de uma redação. Segundo ele, as emblemáticas e organizadas reuniões de pauta atualmente são cada vez mais escassas, assim com o "espírito investigativo", e as  tão recorrentes características na definição do fazer jornalismo: ética, objetividade e neutralidade. Para Bueno a realidade é outra: "Embora reuniões de pauta ainda existam, é fácil perceber que, na maioria dos veículos, agora fragmentados em editorias, e, portanto, com tempos de produção diversos, as coisas não são tão óbvias nem tão charmosas"

E o professor, que também mantém um blog na internet, vai além ao dizer que atualmente as notícias que viram manchetes são frutos de assessorias e não mais do trabalho jornalístico de buscar os fatos ocultos, que certamente não serão disponibilizados gentilmente pelas fontes. Sendo assim, indago: estariam os jornais noticiando o que querem - os poderosos - que a sociedade saibam e não o que ela, de fato, deveria saber? E qual o papel do jornalista nessa empreitada, o de redator, tão somente?

Não é de hoje que na imprensa - assim como em outras relações da sociedade - manda quem pode e obedece quem tem juizo e quer manter seu emprego. Mas até onde essa submissão é aceitável? Estaríamos vivendo hoje um jornalismo de faz de conta: Faz de conta que eu (imprensa) te informo, e você (leitor) faz de conta que acredita em mim?


Para Bueno, não há formula secreta: "Para pautar de verdade, é necessário abrir os olhos, arregaçar as mangas, gastar sola de sapato e descartar a mesmice. As boas pautas não costumam cair no colo e só podem ser feitas com autonomia e coragem. Exatamente o contrário do que propõe o Departamento Comercial, preferem os anunciantes e andam fazendo os jornalistas preguiçosos."


Enquanto valiosos contratos e nebulosos acordos nutrem os cofres e as páginas dos impérios da comunicação, perde o povo e o jornalismo. E assim caminha a humanidade, sabe-se Deus pra onde.


Leia o artigo completo do Wilson Costa Bueno

Foto: Getty Images

Um comentário:

Richardson Gray disse...

Poxa! Isso me lembra o que PVC falou no Jornalismo Esportivo. Aquela vontade de tornar a página principal uma nota de rodapé em outra revista não existe mais... Uma pena.


@RichardsonGray
www.jornalismoeesporte.com

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