O veterano assessor de imprensa esteve afastado do mercado de trabalho por mais de dez anos. Nesse período, manteve-se alheio ao espetacular desenvolvimento da Web 2.0, com seus blogs, redes sociais e twitter. Um dia resolveu retomar a antiga atividade, na mesma agência de Comunicação, e não teve grandes problemas para adaptar-se ao serviço porque em sua empresa as coisas não mudaram muito, apesar do grande salto da Internet na última década. Em essência, a relação com os clientes continuava a mesma: a busca por espaço nos jornais, revistas e TVs e, ao final, um relatório com análise desses resultados. Em alguns casos, havia alguém que, vez por outra, postava no twitter ou no Facebook alguma novidade, especialmente sobre produtos. Nada além disso. O certo é que muitas assessorias de imprensa, Brasil afora, não alteraram sua rotina, mesmo diante de tantas mudanças no mundo virtual e na tecnologia da informação.
Obviamente, o hipotético assessor não trabalhava numa grande agência ou numa pequena empresa inovadora. Estava de volta a uma assessoria de imprensa que não se mobilizou o suficiente para usar, de forma dinâmica e efetiva, os poderes das ferramentas online. Muito menos desenvolveu ou aprendeu modelos de mensuração de resultados capazes de convencer o cliente da importância desses meios.
Do mesmo modo, o assessor nem tinha conhecimento que começava a surgir outro tipo de empresa de comunicação, voltada exclusivamente para a Internet. Elas terminaram evoluindo mais, ao adotar um conjunto de métricas e procedimentos em busca de uma melhor compreensão do novo mundo online e das necessidades do cliente nesse ambiente, especialmente em relação às mídias sociais.
Mesmo elas, no entanto, ainda são vistas com alguma reserva para uma fatia da clientela potencial, que se apegou o fetiche do papel e dele não arredou pé. Por isso, as tradicionais assessorias de imprensa, até as mais conservadoras, ainda tem um peso maior no mercado. Tais empresas e seus clientes também não entenderam que as recém-chegadas são parte importante do trabalho de relações com a mídia e para outros tipos de consultoria prestados no setor. Vale destacar, neste caso, que o Brasil começou a despertar lentamente para o novo nicho, mas tem corrido contra o relógio para atualizar-se.
E por que, no mundo dos negócios, a divulgação online ainda é vista com certa cautela? Não há como encontrar “culpados” nesse processo – nem clientes nem prestadores de serviços de comunicação. A questão é que a Web 2.0 ainda é subutilizada e, para alguns, um mistério. Em artigo recente na Folha de S. Paulo, o fundador do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), Silvio Meira, dá algumas pistas. Ele afirma que as empresas, de uma forma geral, ainda não sabem lidar com esta “segunda natureza dos negócios”. Segundo Meira, elas terão que criar, desde o nascedouro e em sua própria cultura corporativa, um modelo que se adapte às novas mídias. Não podem pretender o contrário, ou seja, o encaixamento da web aos seus processos. Na opinião do cientista – um dos fundadores do Porto Digital do Recife – milhões de tuítes e retuítes podem ser inúteis para alavancar os negócios dos clientes, caso não adotem uma relação orgânica com o universo digital.
Nesse cenário, é bem provável que o velho assessor continue tocando suas tarefas como antes por algum tempo. Até que descubra que a atuação no ambiente online, de maneira colaborativa e participativa, não é uma moda, mas um espaço de negócios do nosso século – uma prioridade do cliente e uma necessidade de sua agência de comunicação em um futuro bem próximo. A partir daí, o veterano assessor deverá pensar seriamente em um belo projeto de reciclagem de conhecimentos. Tanto ele quanto sua agência de comunicação.
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