Não é novidade que quase tudo que é produzido por aqui tem inspiração exterior. Os programas de tevê, os padrões jornalísticos, as produções musicais e, até mesmo, os hábitos de moda, comportamento e consumo, na sua maioria, são consequências de colagens daquilo que foi idealizado lá fora.
Para o jornalista e professor britânico Marcus Boon, autor do livro Praise of Copy (Elogio à Cópia), ainda sem tradução no Brasil, existem diferenças objetivas entre plágio, imitação e cópia, sendo esse último diferenciado por três categorias: a cópia boa da ruim, a cópia criativa, com atitude de transformação e a cópia não-criativa, que não faz nada além de repetir, inclusive a má informação.
Boon define o plágio como sendo algo apresentado como original, com a explicita intenção de que receptor não saiba que aquilo é uma cópia. Trata-se de um fenômeno antigo, que já era muito comentado entre gregos e romanos. A imitação, por sua vez, é um processo universal de vários níveis, que inclui moléculas orgânicas e até culturas. Esse processo se caracteriza pela transformação de uma ideia original. Já a cópia refere-se a um modo particular de pensar sobre todo o processo de imitação.
A cultura do Ctrl+C e Ctrl+V, quando indivíduos copiam outros, inevitavelmente resulta na morte da originalidade e no desaparecimento da criatividade. Na arte, casos como estes chegam a atingir o demérito, principalmente se levarmos em consideração o alto nível de criatividade do povo brasileiro. O clipe "Sou como sou", recém lançado pela cantora baiana Preta Gil, exemplifica como essa perda de originalidade pode comprometer um trabalho relevante.
A música não é ruim e a proposta é apreciável, mas o clipe traz referências explícitas e sequências claramente plagiadas de uma outra produção: Countdown, da americana Beyoncé. Seria o plágio inconsciente ou estariam subestimando nossa memória? Seria uma homenagem, uma crítica ou não existiria outra forma de inspirar-se sem propriamente copiar?
Tirem suas próprias conclusões. O fato é que, seja na arte, na vida ou na acadêmia, o plágio é rigorosamente condenável, por ferir padrões éticos, ser crime previsto no código penal e desvirtuar o propósito da inteligência. Já que sempre é possível criar algo, verdadeiramente, novo. E se me permitem uma paródia, "nós já fomos mais criativos", como encerraria Carlos Nascimento.
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